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Meu Boi... Nosso Patrimônio Cultural


NOSSO OBJETIVO É PESQUISAR, DIVULGAR E ORGANIZAR AÇÕES DO FOLQUEDO DO BOI DE REIS NO RIO GRANDE DO NORTE. BUSCANDO NESSES GRUPOS A SUA ORIGINALIDADE E CONTINUIDADE. O BOI DE REIS NO RN DEVE SER INVESTIGADO, INSTIGADO, RECONHECIDO E INCENTIVADO POR TODO O BRASIL COMO TRADIÇÃO NACIONAL.


Minha Santa Madalena, virgem dos cabelos loiros...

Minha Santa me ajude na massa do pão criolo...

Ai Juvelina, que é seu Juvenal

É hora de tirar leite meu garrote quer mamá

Balança que pesa ouro num pesa todo metal

A moça chupa laranja de baixo do laranjal...


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Comunidade de Matas por Gibson Machado

MACHADAO, Gibson. Comunidade de Matas. Disponível em: < http://gibsonmachadocm.blogspot.com/2010/04/o-boi-de-reis-de-matas.html>. Acesso em:  4 abr. 2010.



O BOI DE REIS DE MATAS

Pátio da Capela de São Geraldo em Pedregulho

O BOI DE REIS DE MATAS

No dia 19 de março de 2010 fui convocado pelo Mestre Luis Chico para comparecer na comunidade de Matas, no Assentamento Pedregulho, afim de participar da apresentação do Boi de Reis durante o encerramento das festividades de São José. Não tinha como faltar ao "apito" do Mestre!!!

Já se passaram alguns anos desde que tive a honra e a grande satisfação de conhecer o Mestre Luis Chico. Lembro-me que fazia um trabalho para uma parenta dele e ela trouxe algumas fotografias de uma apresentação do Boi-de-reis na comunidade de Matas.

Chegada dos Galantes do Boi de Reis

Na ocasião não me chamou muito a atenção, no entanto, quando me aprofundei no trabalho, percebi que aqueles personagens da fotografia me lembravam o tempo de infância quando assistia, nos anos 1970, o boi-de-reis desfilar no carnaval de Ceará-Mirim, juntamente com as tribos indígenas, os cabocolinhos, bambelô, os blocos de rua, etc.

Em 2000 resolvi fazer uma visita ao Mestre e fiquei impressionado com sua simplicidade. Aquele homem tinha uma sabedoria impressionante. Na medida em que íamos conversando minha admiração aumentava cada vez mais e, a partir daquele dia, ficamos amigos e, sempre que posso, vou ao seu encontro enriquecer-me com sua sapiência.

A história do Boi-de-Reis no Rio Grande do Norte, segundo o folclorista Deífilo Gurgel, remonta aos festejos que em Portugal e no Brasil marcavam o ciclo natalino nos séculos passados e ao desenvolvimento da pecuária nordestina, determinando o surgimento de todo um complexo cultural que favoreceu, sobremodo, a evolução do folguedo, nos seus estágios mais primitivos.

Apresentação da figura da Burrinha



Era um Auto hierático do ciclo natalino e vinculava-se, em suas origens, aos Ternos e Ranchos que, nos séculos passados, percorriam as ruas de nossas cidades, visitando as residências de pessoas amigas, onde, recebidos com lautas ceias, cantavam e dançavam, comiam e bebiam tudo em louvor ao nascimento do Messias.

Os Ranchos ou Reisados apresentavam-se sempre conduzindo um animal de fantasia e tomavam os mais variados nomes, sob a invocação desse animal ou de planta ou ente fantástico que levavam. Havia assim o reisado da Borboleta, do Maracujá, da Caipora, etc.



Apresentação da figura encantada do Jaraguá
No Nordeste brasileiro, devido ao desenvolvimento da pecuária, determinou o surgimento das mais variadas manifestações e influências em nossa cultura popular. Os Reisados sempre encerravam com a exibição da figura do Boi, por isso, sua supervalorização entre as manifestações populares nordestinas.

Luis da Câmara Cascudo, em suas pesquisas, considera que as Tourinhas portuguesas teriam sido o marco inicial, a influência mais significativa do Auto do Boi. Elas consistiam em uma pantomima em que um rapaz, metido numa armação de cipós, recoberta de pano, imitando um touro, corria atrás de seus companheiros para atingi-los, numa tourada de brincadeiras.

Apresentação da principal figura, o Boi

A primeira notícia do Bumba-meu-boi data de 1840, publicada no jornal O Carapuceiro, escrita pelo padre Lopes Gama. Naquele tempo o folguedo era considerado brincadeira da ralé.

O Bumba-meu-boi é um auto popular com bailados e cantos, tratando de assunto religioso ou profano, representada no ciclo natalino (dezembro e janeiro). A este tipo de espetáculo ou folguedo Mario de Andrade denominou dança dramática, em contraposição às danças puras, que não apresentam qualquer encenação teatral. O Bumba-meu-boi é a representação da morte e ressurreição do próprio animal.



Mestre Luis Chico

A história do Boi-de-reis em Ceará-Mirim, provavelmente, se inicia com o desenvolvimento da economia canavieira, pois, há relatos de grupos existentes nos velhos engenhos primitivos.

O folguedo existente em Matas é remanescente de antigos grupos que existiam na ribeira do rio Ceará-Mirim entre as comunidades de Capela, Matas e Mineiros. Ele surgiu no início dos anos 1950 com a chegada de um taipuense que fazia a figura do Mateus e montou o grupo cujo primeiro Mestre chamava-se Zé de Rosa.

A partir de 17 de maio de 1957, com a saída do Mateus, o senhor Luis Chico assume o grupo e, também, a figura do Mateus, passando a liderar seus marujos até os dias atuais. Durante esses 53 anos o folguedo tem enfrentado as mais variadas dificuldades, desde a morte dos velhos marujos até a desvalorização do brinquedo pela sociedade e, principalmente, pelo poder público que não viabiliza oportunidades para a sua preservação.

Apesar de todas as dificuldades o Mestre Luis Chico tem sido um verdadeiro Herói na condução de uma tradição tão importante para a história e cultura de nosso município.

O Boi-de-reis é formado por personagens humanos, animais e seres fantásticos. Os humanos são o Mateus, O Birico, Nanã, os Galantes e as Damas. Atualmente os animais são a Burrinha e o Boi e representando os seres fantásticos, o Jaraguá.

Todos os participantes diretos são do sexo masculino. Os personagens femininos são rapazes ou meninos travestidos. É o caso da Nanã e das damas.

Atualmente o folguedo tem sofrido muitas transformações, principalmente no que diz respeito às figuras, pois já não existe tempo suficiente para suas apresentações. As encenações que havia durante o evento, também, foram abolidas, pois a duração fica em torno de vinte a trinta minutos, o que impossibilita desenvolvê-las plenamente, principalmente a moagem do engenho e a matança e ressurreição do boi.

A representação do boi, atualmente, limita-se a danças e cantigas, como as cantigas de abertura, compreendendo saudações e louvações aos “donos da casa”, ao Messias, pelo seu nascimento e aos Santos Reis; loas declamadas pelo mestre e pelo trio de cômico, Mateus, Birico e Nanã; apresentação das figuras da Burrinha, Jaraguá e o Boi e as cantigas de despedidas.

Os enfeitados do boi são o mestre, as Damas e os Galantes. Eles se apresentam festivamente vestidos, cantam velhas cantigas religiosas, louvações e saudações, além de tradicionais baianos. O Mestre é o responsável pela brincadeira, é a pessoa que contrata as apresentações e convoca os componentes do grupo para os ensaios.

Os Galantes, em numero de quatro, vestem-se de maneira idêntica ao Mestre. Durante a representação, dispõe-se em duas alas ou cordões e realizam evoluções, cruzamentos, meias-luas, etc. As Damas, em número de duas, são meninos de dez a doze anos, travestidos de mulher.

A figura principal do folguedo é o Boi. É o último que se apresenta. Depois que ele sai de cena, cantam-se as despedidas.

No último dia 19 de março fui à comunidade de Matas, no assentamento Pedregulho, juntamente com o pessoal do Ponto de Cultura Boi Vivo (João Lins, Bianca e Lenilton) onde, assistimos e registramos a apresentação do Boi-de-reis que encerrava as festividades do padroeiro São José. Quando terminou a Novena toda a comunidade ficou para prestigiar o evento. O mais impressionante foi a participação de todos os presentes acompanhando e aplaudindo os bailados cantados pelo mestre Luis. Crianças e adultos prestavam atenção aos movimentos e encenações representadas pelas figuras do folguedo.
Postado por gibson às 11:29
 

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Boi de Reis do RN

Matas dificuldades e curiosidades

Povoado de Matas (Boi de Reis de Matas)

Ceará-Mirim é um município brasileiro do Estado do Rio Grande do Norte, localizado na Região Metropolitana de Natal, na microrregião de Macaíba, na mesorregião do Leste Potiguar e no Polo Costa das Dunas. De acordo com o censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano 2008, sua população é de 67.416 habitantes. Área territorial de 740 km². Localizado a 31 km da capital do estado, Natal.

A comunidade de Matas, onde a sua maioria vive da agricultura de subsistência, da criação de animais para o próprio consumo e alguns possuem comércio. Muitos jovens trabalham em Natal e só vêm para casa no final de semana, o álcool também é muito presente nessa comunidade. Observamos os mais velhos com maior inclinação para o álcool. A maioria dos Jovens gosta de jogar futebol no campo no final de semana, e participa de grupos de jovens ligados a igreja.


A igreja fica localizada no assentamento São José do Pedregulho. A comunidade de Pedregulho antes era uma fazenda e passou a ser assentamento de sem-terra junto com moradores de Mineiros, outra comunidade próxima. O padroeiro da Igreja é São José, grande parte dos jovens participa da novena e das barracas em festas para arrecadar fundos para a igreja que se encontra inacabada.

Hoje o grupo de Boi de Reis de Matas conta com o Mestre Luiz Chico, o antigo Mateus, que assumiu o lugar do já falecido Mestre João de Souza já contando 10 anos que o mestre morreu.


Seu Luiz Chico, Mestre do Boi de Reis, tem 73 anos e, é casado com Dona Antônia.Os dois são aposentados, tem cinco filhos, dois brincam no Boi de Reis. Brinca no Boi desde os 12 anos e, a mais de 30 anos fazia o Mateus antes de virar Mestre.

Encontramos apenas três figuras, a burrinha, o Jaraguá e o boi, esse último já um pouco descaracterizado, o pano do boi era feito de chitão e na parte de cima do boi era coberto com um tecido floral mais com tonalidade escura, e nas suas laterais o Mestre Luiz Chico enfeitou com CD`s, com a parte prateada para fora, mas essa mudança partiu dele.

A composição da sua orquestra é formada por um violonista e um pandeirista, perguntei a seu Luiz sobre essa formação, ele disse que o rabequeiro faleceu há dez anos, era difícil encontrar outro, desde então eles eram acompanhados por um violão, fiquei curiosa e perguntei por que eles não usavam o triangulo, sendo um instrumento muito característico dos ritmos nordestinos e que também são encontrados no Boi de Reis, ele falou que não tinha o triangulo por isso não usava. O ritmo do Boi de Reis acompanhado por um violão, de fato, muda a sonoridade e a cadência, fica mais lento, e com seu Jurandir (tocador do Boi de Reis de Matas), ele dar um caráter de seresta, por isso fica bem arrastado, influenciando na dança que acaba tendo o mesmo andamento. Nesse Boi não encontramos a figura do Mateus, Birico nem Catirina, então é um boi que perdeu toda sua parte cênica dos mascarados, segundo seu Luiz isso se deu porque ele que fazia o Mateus e quando o mestre dele faleceu, ele assumiu a maruja, e as pessoas que faziam as outras figuras não continuaram, segundo ele não é todo mundo que sabe brincar de cara pintada. Outro fator que ajudou para que que a parte dramática do boi desaparecesse completamente foram as apresentações curtas onde não dava tempo de mostrar tudo ficando ressumindo o Auto Popular a pouco menos que meia hora de apresentação isso não só esta acontecendo especificamente em Matas mas em todos os Grupos de Boi de Reis umas descaracterização não voluntária partindo da péssima política pública da nossa cultura.



Bianca Maggi.
João Lins de Oliveira Filho.