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Meu Boi... Nosso Patrimônio Cultural


NOSSO OBJETIVO É PESQUISAR, DIVULGAR E ORGANIZAR AÇÕES DO FOLQUEDO DO BOI DE REIS NO RIO GRANDE DO NORTE. BUSCANDO NESSES GRUPOS A SUA ORIGINALIDADE E CONTINUIDADE. O BOI DE REIS NO RN DEVE SER INVESTIGADO, INSTIGADO, RECONHECIDO E INCENTIVADO POR TODO O BRASIL COMO TRADIÇÃO NACIONAL.


Minha Santa Madalena, virgem dos cabelos loiros...

Minha Santa me ajude na massa do pão criolo...

Ai Juvelina, que é seu Juvenal

É hora de tirar leite meu garrote quer mamá

Balança que pesa ouro num pesa todo metal

A moça chupa laranja de baixo do laranjal...


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Aboio

Aboio

Aboio - Boi Chuvisco de Buracos - São José do Mipibu

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
    
Aboio é um canto típico do Nordeste brasileiro, comum também no interior de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Consiste em um canto sem palavras cantado pelos vaqueiros quando conduzem o gado pelas pastagens ou para o curral.

Características

É um canto vagaroso, no ritmo do movimento dos animais, que termina incitando a boiada de forma não cantada: ei boi! boi surubim!, ei lá, boizinho!.
O aboio em versos é uma modalidade de aboio que consiste em versos de temas agropastoris, de origem moura, trazidos pelos escravos portugueses da Ilha da Madeira.

Mário de Andrade define o aboio como “um canto melancólico com que os sertanejos do Nordeste ajudam a marcha das boiadas. É antes uma vocalização oscilante entre as vogais A e Ô. A expressão de impulso final “Oh dá!” também muda para “Êh, boi!”. (M. Andrade, As Melodias do Boi, 1987, p. 54).

Aboio
Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo.
O aboio típico no Nordeste do Brasil é um canto sem palavras, entoado pelos vaqueiros quando conduzem o gado para os currais ou no trabalho de guiar a boiada para a pastagem.

É um canto ou toada um tanto dolente, uma melodia lenta, bem adaptada ao andar vagaroso dos animais, finalizado sempre por uma frase de incitamento à boiada: ei boi! boi surubim!, ei lá, boizinho!
Esteja atrás (no coice) ou adiante da boiada (na guia) o vaqueiro sugestiona o gado que segue, tranqüilo, ouvindo o canto.
No sertão do Brasil é sempre um canto individual, entoado livremente, sem letras, frases ou versos a não ser o incitamento final que é falado e não cantado. Os que se destacam na sua execução são apontados como bons no aboio.
Existe também o aboio cantado ou aboio em versos que são poemas de temas agropastoris, de origem moura e que chegou ao Brasil, possivelmente, através dos escravos mouros da ilha da Madeira, em Portugal, país onde existe esse tipo de aboio.
Segundo Luís da Câmara Cascudo, o vocábulo aboio é de origem brasileira, sendo levado para Portugal, uma vez que lá aboio significava pôr uma bóia em alguma coisa.
O aboio não é divertimento é uma coisa séria, muito antiga e respeitada pelo homem do sertão.
Pode aboiar-se no mato, para orientar os companheiros dispersos durante as pegas de gado, sentado na porteira do curral olhando o gado entrar e guiando a boiada nas estradas. Serve para o gado solto no campo, assim como para o gado curraleiro e até para as vacas de leite, mas em menor escala, porque nesse caso não é executado por um vaqueiro que se preze e tenha vergonha nas ventas.
O escritor José de Alencar, no seu livro O sertanejo, diz do ritual do aboio: Não se distinguem palavras na canção do boiadeiro; nem ele as articula, pois fala do seu gado, com essa linguagem do coração que enternece os animais e os cativa.
Recife, 13 de junho de 2003.
(Atualizado em 20 de agosto de 2009).

FONTES CONSULTADAS:
CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, [19--?].
NICÉAS, Alcides. Aboio: um ritual agreste. Recife: Fundaj, Inpso, Centro de Estudos Folclóricos, 1979. (Folclore, n.93).
COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: GASPAR, Lúcia. Aboio. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: . Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

quarta-feira, 8 de junho de 2011



O autêntico Boi de Reis de Cuité e Bocas: Folclore de Pedro Velho, RN.

A origem e os “brincantes”.
O tradicional Boi de Reis de Bocas, também conhecido por “Boi de Reis de Cuité” surgiu nas primeiras décadas do século XX. As comunidades de Cuité é Bocas são distritos vizinhos e pertencem a Pedro Velho-RN. Os integrantes dessa arte popular são dessas comunidades.
O grupo teve início através de duas famílias: Joaquim e Marreiro. Dessas famílias ainda mantém viva a tradição do Boi, os netos e bisnetos. É o caso do Sr. Arlindo Marreiro da Silva com mais de 60 anos e seus filhos Aristelço e Adivan integrantes do grupo que foi passando de geração em geração, porém, sem a presença da mulher. Isso explica o caso das damas. A “maruja” é formada por seis galantes enfeitados e duas damas que são, conforme a tradição, meninos vestidos com roupas de meninas. Eles usam calças compridas com cores brancas e vermelhas e chapéus com fitas multicoloridas. Não podem faltar os espelhos e as espadas com características medievais. Os galantes precisam estar brilhantes para a festa.
O Boi de Reis de Cuité e Bocas brilha no palco do FEFOL - OLÍMPIA-SP






Segundo a história, esses galantes representam a alta sociedade. Contrapondo a esse grupo e integrando o folguedo, tem três personagens engraçadas (Mateus, Birico e Cravo Branco) que seguram uma garrafa com querosene servindo de candeeiro (lamparina) para iluminar a festa; no tempo do surgimento do grupo, quando não havia energia elétrica. Essa tradição das garrafas permanece viva na dança do folguedo até hoje. É uma marca fundamental que elege o Boi de Reis de Bocas, um dos mais tradicionais e originais do Brasil.
O reisado tem passos de danças sincronizadas e imitadas pelos mascarados que seriam os representantes populares (os pobres) com combinação de elementos da cultura portuguesa, nordestina brasileira e africana. Apresentam-se com os rostos pintados com tinta preta e maltrapilhos, usam chapéu de couro, evidenciando o contraste social com os galantes (ricos). Fazem caretas, dançam, pulam e cantam. Os estudiosos remetem a origem do folguedo a Portugal no século XVIII e as figuras dos mascarados seriam advindas dos vaqueiros da criação de gado dessa época. As cores vermelhas e verdes mostram bem as cores da bandeira de Portugal e de aspectos da cultura portuguesa.






O ritmo da dança é marcado pela bandinha que acompanha a tradição do Boi: tem o rabequeiro tocando ao centro na companhia do pandeirista e do triângulo. Os integrantes da banda usam roupas quadriculadas que lembram os festejos matutos das quadrilhas juninas. O instrumento mestre da bandinha é a rabeca tocada por Damião Soares de Lima, o Missionário. É o rabequeiro mais antigo de Pedro Velho e aprendeu a tocar o instrumento por curiosidade. Ele teme não encontrar um substituto e dificultar a continuidade do Boi de reis que depende fundamentalmente da rabeca.
Os integrantes do Boi de reis são: Mestre Zé Candido, Do Rêgo, Ramos, Adivan, Ozenildo, Genilson, Zé Joaquim, Zezinho. Os mascarados: Arlindo (Mateus), Antonio (Birico) e José Augusto (Cravo Branco); a bandinha tem Missionário (Rabeca), Gabriel (pandeiro) e Aristelço (Triângulo). O grupo atualmente apresenta algumas renovações por motivo de idade e estado de saúde: O Cravo Branco Sr. José Augusto não brinca mais com o grupo. Algumas vezes, a bandinha e o reisado também renovam integrantes em algumas apresentações por necessidade de trabalho.
Até meados da década de 70, os brincantes de Boi de reis animavam as festas sociais das cidades da região Agreste e Litoral Sul Potiguar, bem como de outras cidades da Paraíba. Era a diversão dos mais velhos de hoje e de outras pessoas que não conheceram a era da Televisão. Com o advento da energia e dos meios de comunicação de massa, a arte do Boi foi sendo esquecida. Recordo-me quando criança ainda ter visto a brincadeira do Boi na praça de Pedro Velho nas festas do Padroeiro, Natal e Ano novo na década de 80.

Boi Pintadinho



Sr. José Augusto, o eterno Cravo Branco - nossa homenagem


O resgate da arte.
Com a criação da Semana de Arte, Cultura e Humanidades, denominada Semana Chico Antônio realizada em Pedro Velho de 1997 a 2002, o Boi foi revitalizado. As apresentações nesse evento levaram o Boi, quase extinto, às páginas dos jornais em nível estadual e encantou o folclorista Deífilo Gurgel que estava presente e percebeu a autenticidade do grupo.
As músicas do Boi de reis têm conotação religiosa revezando entre o sagrado e o profano. Inicia o folguedo com o “aboio”, um chamado ao boi semelhante ao canto dos vaqueiros com a manada. Depois vem a “masseira”, uma cantoria em que o Seu Juvená chama Joventina que “é hora de tirar leite e o bezerro quer mamar” e uma crítica ao valioso metal de uma época pobre: o ouro. “Balança que pesa ouro, não pesa todo metá”. A linguagem excentricamente coloquial das músicas é rica para análise social e sintática. O uso de rimas nos fonemas é feito de forma natural e dão o tom da musicalidade. A “masseira’ saúda os galantes que se animam para a festança.
No primeiro momento da festança, o Boi de reis começa a cantoria com músicas religiosas, dentro de casa, saudando a família e fazendo seu cumprimento religioso. O segundo momento acontece no terreiro onde ocorrem as danças dos galantes e damas acompanhados do Birico, Mateus e do Cravo Branco. Durante a dança, os mascarados buscam arrecadar alguma oferenda com o seu chapéu de couro ao público presente. O momento mais importante é a entrada do Boi (reze) de pano, símbolo maior do folguedo, o boi de Cuité é conhecido por “Pintadinho”. O boi faz sua apresentação e depois começam as “vendas” ao público fazendo reverências as pessoas em troca de recompensa em dinheiro.



O Boi em São Carlos - SP


A estória virando história.
Sabe-se na história mundial que o boi é um animal cultuado como deuses em várias sociedades. Para os indianos, por exemplo, a vaca é um animal sagrado. No folclore brasileiro, o boi recebe várias denominações conforme cada região (bumba-meu-boi/MA, boi-de-mamão/SC, Reis-de-boi/ES, Boi-Calemba, Bumba (PE), Boi-Bumbá (PA)). O boi um dia já foi moeda de troca (cabeça de gado).
No Rio Grande do Norte, o “Boi-de-reis” de Bocas e Cuité tem uma estória fascinante oriunda do valor que o boi teve na sociedade agrária do final do século XX. Conta a estória de um vaqueiro que cortou a língua do boi de seu patrão para satisfazer a esposa grávida. O vaqueiro sacrificou o boi da fazenda e, depois, tentou ressuscitá-lo para não receber a punição do dono. Depois de muita confusão e reza, o boi ressuscita e tudo vira festa. Contam os estudiosos que o boi de reis de Bocas não representa a morte do boi e mantém a alegria da dança em homenagem ao boi vivo ou já ressuscitado.





Missionário e sua rabeca
O sucesso do auto
Depois de muito tempo sem fazer apresentações, a Semana Chico Antônio de 1997 foi decisiva. Desse palco, o Boi de reis foi redescoberto e ganhou o Brasil. O grupo passou a fazer várias apresentações nas cidades e estados circunvizinhos. Fez apresentação em Pernambuco e na Capitania das Artes em Natal-RN, e em 2006 alcançou o seu evento ápice: o Boi de reis encantou o Brasil no maior Festival de Folclore da América Latina, o FEFOL de Olímpia-SP.
Antes desse Festival, o grupo participou o Projeto “Música do Brasil” do antropólogo Hermano Vianna, irmão do cantor Herbert Vianna, vocalista da Banda “Os Paralamas do Sucesso”. As músicas do Boi estão em duas faixas de um CD do Projeto que tem músicas de boi de vários lugares do Brasil. Dessa produção também saiu uma gravação em vídeo da dança do boi que teve exibição na TV Futura com apresentação de Gilberto Gil. O boi ganhou o mundo através de site, Fita VHS, livro e CD. O grupo está na expectativa dessa obra virar DVD e que, merecidamente, todos os integrantes tenham um retorno financeiro para suas famílias e para a manutenção do Boi de reis.


O Boi de reis no palco do FEFOL - momento histórico

Mestre Zé Cândido comanda a cantoria no FEFOL 2006






O Boi no Palco principal do FEFOL - OLÍMPIA-SP



O Boi em São José do Rio Preto-SP


Para os “brincantes”, o auto do Boi de reis é uma diversão. Quando não existia televisão, a brincadeira que chamava a atenção de crianças, jovens e adultos era o folguedo do Boi de reis. O ser humano em sua identidade cultural sente a necessidade de diversão, alegria e contado com o mundo das representações e das manifestações folclóricas de sua terra. Isso acontece em qualquer cultura e não é compreendida pela juventude capitalista que consome informação voltada ao consumo e ao moderno. Um moderno que oculta a verdadeira identidade do povo em troca de um modismo de apelação sexual e de ordem econômica. Para os jovens de hoje, a arte do boi é vista como cafona, feia e “fora de moda”. O moderno é visto como bonito: é o Pearce, a roupa decotada, o glamour, o salto e as ilusões das novelas.
Não é que a diferença entre o chique e o brega esteja na roupa ou na mídia, mas é o reconhecimento dos valores que estão sendo rejeitados e mal entendidos. Imaginemos os jovens de hoje numa vivência sem energia elétrica, provavelmente, estariam assistindo ao Auto do Boi de reis que levava luz e alegria à toda comunidade, antes sem eletricidade. Nosso respeito a quem transmitia essa felicidade e hoje mantém viva a arte do Boi de reis.

O Boi de Reis no SESC em Catanduvas-SP



Sr. Missionário - Rabequeiro

A figura do Boi Pintadinho


Mateus e Cravo Branco



Ema: outra figura folclórica do auto.

Passando a fita


Mestre João Joaquim, um dos fundadores.

Birico


Guriabá

A realidade do folguedo.
O grupo ainda tem dificuldades em se manter. Como os “brincantes” dançam muito e fazem várias apresentações, precisam renovar o figurino: tênis, calças, camisas, enfeites, o boi e outras figuras que fazem parte do auto, o Jaraguá, o Guriabá e a Ema. O reisado recebe cachês baixos em suas apresentações. É formado por pessoas simples e humildes e são agricultores.
O boi de reis de Bocas e Cuité fez apresentações no palco principal do FEFOL e nas cidades vizinhas a Olímpia-SP. Apresentou-se no SESC em Catanduvas e fez apresentações em São Carlos e São José do Rio Preto, além de usinas patrocinadoras do FEFOL e no almoço folclórico do evento que reunia, dentre outros grupos, muitos curiosos e amantes do folclore brasileiro.











Jaraguá





A viagem de ônibus foi bastante cansativa. Na ida, o ônibus da empresa Itapemirim pegou o caminho para Guarulhos e depois de uma troca de ônibus, mais quatro horas de viagem ao interior de São Paulo. A volta, tirando algumas indigestões, foi mais tranqüila por Minas Gerais com direito a uma parada no parque do vaqueiro da festa do peão em Barretos ainda Estado de São Paulo.
Portanto, a Arte do Boi de Reis de Bocas e Cuité permanece viva e brilhando, fazendo história e mantendo ativo o folclore de Pedro Velho-RN. Veja as fotos inéditas do FEFOL, fotos antigas e de outras apresentações do nosso autêntico Boi de Reis. Que o folclore seja eterno e os valores culturais vivam pra sempre sobrevivendo ao tempo e as mudanças e evidenciando a identidade do nosso povo.
Brevemente, postarei um vídeo inédito da apresentação do Boi de reis no palco do FEFOL.

Por Cledenilson Moreira