A burrinha
(Mestre Elpídio)
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Se "el uso corriente y la tradición constituyen la prueba suprema de las matérias folklóricas", segundo nos afiança o folclorista norte americano Ralph Steele Boggs ("El Folklore, definicion, ciencia y arte", em Revista Venezolana de Folklore, I, 947) — é claro que não se pode negar a evidente feição folclórica que há no Carnaval. Mas no carnaval encarado como festejo tradicional do nosso povo, com a sua mascarada, suas batalhas de confete, seus ranchos e préstitos, seus bailes populares. Tudo que se repete anualmente na folia momesca, tudo que já se incorporou ao patrimônio tradicional do povo faz parte integrante do folclore. Também deste participam — como objetos, instrumentos e pertences — as máscaras grotescas de papelão, os estandartes pintados ou bordados, as flechas, tangas e cocares de índios, os colares e pulseiras de contas ou conchas, os chocalhos de folha de flandres ou de "chambinhas", os reco-recos, os pandeiros, os caxambus, congos e puítas — tudo feito e preparado — sabe Deus com que carinho — pelas mãos rudes ou habilidosas dos foliões anônimos. Participa, igualmente, do folclore, no carnaval de rua, a interessante figura da burrinha, personagem desgarrada, com certeza, de algum auto popular do bumba-meu-boi. De fato, essa burrinha saltitante e brejeira, deve de ser parente do cavalo-marinho, que figura em qualquer destes velhos folguedos do boi: o bumba-meu-boi do Nordeste, o boi de mamão de Santa Catarina, ou o rei de boi capixaba, de São Mateus e Conceição da Barra. A burrinha carnavalesca é preparada pelo mesmo processo por que se faz o cavalo-marinho: a cabeça é de pau ou papelão grosso, e representa a cara do animal, com orelhas e crina, os olhos, as ventas e a boca pintada etc. A armação do corpo é, em regra, de madeira, forrada com panos vistosos e compridos; na parte traseira — o rabicho. O cavaleiro "veste" essa armação, e, puxando as rédeas presas à boca do "bicho", movimenta-o, à vontade, em trotes ou galopes, com os próprios pés a fingirem de pata, e mal aparecendo sob a cobertura de pano. Está-se a ver que, nestas condições, a burrinha tem apenas dois pés. Às vezes, para melhor dar a impressão da montaria, cosem-se-lhe duas pernas recheadas de pano, uma de cada lado do "selim", fingindo pernas e botas do "peão". A burrinha é figura tradicional no carnaval capixaba nas ruas de Vitória. Junta-se, de logo, a grupos ou cordões musicais, e vai à frente, orgulhosa e pimpona a dar saltos e corridas, atropelando tonta a gurizada. |
(Folclore. Vitória, janeiro-fevereiro de 1950, nº 5)
http://www.jangadabrasil.com.br/revista/janeiro62/fe62001a.asp
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