O GRANDE MESTRE MANUEL MARINHEIRO
O Mestre Manuel Marinheiro é o símbolo de uma época
de ouro do folclore potiguar e de sua luta para não cair no esquecimento.
Nascido Manuel Lopes Galvão, na fazenda Morena, em Goianinha, 63 quilômetros de
Natal, já tinha na família uma tradição de mestres em boi-de-reis. Seu pai, João Lopes
Galvão Filho, herdou do próprio pai a brincadeira. “E meu
avô, do pai dele...”, diz. Como os participantes do folguedo
são conhecidos como a “maruja”, o termo Marinheiro logo virou
sobrenome da família. Devido a família não ter as melhores
condições fi nanceiras, seu Manuel foi criado pelo padrinho,
Mario Raposo Bandeira, em Natal. “Meu padrinho era
doutor, engenheiro e comandante do Cais do Porto”, diz com
orgulho. Nos fins de semana, corria para Goianinha para brincar no
boi.
Assim, quando ganhou o título de mestre das mãos de
seu irmão mais velho, Zé Marinheiro, deixou de ser Lopes
Galvão para ser só Manuel Marinheiro. “Meu irmão viu que eu
era muito interessado, que sabia as cantigas todas, e resolveu
passar o boi para mim” Dessa época, seu Manuel guarda
boas recordações. “Certa feita, a
turma ia se apresentar num festival
nacional de folclore, era minha primeira viagem de
avião. Nas comemorações, na noite
anterior, soltaram um rojão que acabou
incendiando o galpão do ‘De Pé no Chão...’ onde
estavam todas as indumentárias do boi. O jeito
foi viajarmos só com o bambelô. Nem dormimos na
noite da viagem, fazendo aquela fuzarca
no aeroporto. Quando chegamos no Encontro,
em Porto Alegre, tinha grupo de todo
canto, cada um tinha meia hora de
apresentação. Éramos os últimos. Subia cada grupo
bonito, com umas moças que dançavam em
roda, como se fosse um botão de rosa, a
coisa mais linda do mundo. A gente pensava:
‘vamos passar é vergonha’. Que nada. Quando
subiu o bambelô, que tinha 32 pessoas,
e começamos a cantar: ‘O meu Natal, oh
mano/Ô que terra beleza/Lá ficou Paulo
Afonso/Alumiando a pobreza’, o povo quase não deixa agente descer do palco”. Naquele
tempo a cidade fervilhava de grupos folclóricos.
“Quando trabalhei na Federação das Artes, que me
lembro, tinha seis bambelos, o Araruna, três cheganças, três lapinhas, três
fandangos, o Camaleão, o Acoã, três pastoris, além das escolas de samba e dos
grupos de capoeira”, relata. Seu grupo tinha uns 20 marujos, mas depois
diminuiu para 16. Os músicos que acompanhavam, na época, tocavam violino (rabeca),
surdo (zabumba), pandeiro, triângulo. “Na época de meu pai tinha até sanfona. O
grupo começava a se apresentar às 7 da noite e vinha caminhão de gente. O boi
ia até duas, três da manhã, depois entrava o forró e amanhecia o dia, 7 da
manhã, na festa”. Por volta de 1966, a irmã de criação, pesquisadora Mizabel Pedroza,
autora do livro Folclore do Brasil, decidiu mudar-se para o Rio de Janeiro,
levando-o consigo. “Fui para passar só seis meses, acabei ficando dez anos”.
Trabalhou como porteiro, encanador, “faz-tudo”. Conheceu Odaíza, casou e, seis
meses após a cerimônia, resolveu voltar para Natal. “Eu sonhava dançando o
boi-de-reis. E queria mostrar para Iza como era”. Quando voltou, tudo havia
mudado. O grupo, que deixara ativo, encontrava-se fechado já havia algum tempo.
O pessoal quando soube que ele tinha voltado caiu em cima. Logo, já estava
reunindo uma turma e voltando a ensaiar. “A gente saiu pelos interiores,
passamos uns seis meses. Era ensaiando e se apresentando ao mesmo tempo”, afirma.
Não era comum que mulheres participassem da
brincadeira. “Eu resolvi acabar com isso, por que era uma besteira muito
grande. Antigamente, as damas eram meninos vestidos de moça, e a rapaziada não
queria mais se vestir de mulher, por causa da chacota”. Dona Iza acabou se
transformando na espinha dorsal do boi, assumindo a confecção das roupas e
fantasias.....
Quando o pessoal me
pergunta (por que danço o boi-de-reis), digo que foi uma herança que meu pai me
deixou e eu tomei conta disso. No tempo de eu moço, para mim era o maior
divertimento, eu nunca tive o esporte de beber, de jogar, de fumar. Meu esporte
toda vida foi dançar”
Reportagem
de Alex de Souza para a Revista Preá N° 01, Maio
2003
essa cidade ainda bem que esiste gente como seu Manoel Marinheiro, esse sim enche de orgulho nosso povo. È a mostra viva de que quando se quer, quando se respeita sua identidade consegue-se mostrar-se e perpetuasse apesar das barreiras. Estou trabalhando o Boi de Reis com minhas crianças em homenagem a essa estrela que está á brilhar no céu.
ResponderExcluirbençãos meu mestre. Professora Agslene.
Manoel marinheiro já morreu?
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